Hoje, setentão intranquilo, com “bicho carpinteiro no rabo”, como se diz na sua terra. Sempre a pretender cultivar a coragem intelectual e a frontalidade, coisa considerado como feitio difícil. Mistura estranha de estóico, hedonista e epicurista. E Espinosa! Esta biografia vai ser neste tom. Para o convencionalismo, leiam o CV.
Natural de Ponta Delgada, 1944. Açoriano como só são os que há muito vivem fora da terra, prestando honras frequentes à “açorianidade”, aos costumes rituais, à cozinha de festas, à lágrima ao canto do olho na reportagem da TV sobre a procissão do Senhor Santo Cristo.
Pai de três filhos em que se revê e avô de quatro netos.
Doutor e agregado em Medicina (Microbiologia), fora de tempo, quando nem uma coisa nem outra eram vulgares para não universitários. Com muita luta, “para que é que este homem, não universitário, precisa disto?”
Médico naval em Angola (1970-72), com experiência em medicina tropical. E, principalmente, muita conversa com manos e manas. Consagrou-se o seu espírito de marinheiro. Especialmente dotado, porque não sabe o que é o enjoo. Economizando tostões para o grande prazer de um cruzeiro, com experiência de um único, mas não para marinheiro, em navio hotel de cinco estrelas. Tem de ser num veleiro.
Postdoc no Institut Suisse de Recherches Expérimentales sur le Cancer, Lausanne. Uma experiência em tempo certo para aquisição inesquecível do que é o cosmopolitismo científico e universitário.
Ex-investigador sénior e director do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto Gulbenkian de Ciência. Uma escola de excelência para toda a vida.
Fez parte da primeira geração portuguesa de biólogos moleculares e introduziu em Portugal a virologia molecular. Mas quem é que hoje dá valor a isto?
De 1996 a 2002, professor catedrático convidado do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT).
De 1997 a 2000, director do IHMT, com grande aquisição de experiência em gestão universitária e em cooperação internacional na área da saúde. Uma história complexa, de realizações e de frustrações, que se contará um dia, porque bem elucidativa de como a cultura universitária estabelecida pode abortar qualquer reforma.
A concretizar muitos anos de informação e reflexão e com a experiência do IHMT e da UNL, escreveu o livro “A universidade no seu labirinto”.
Ex-consultor do Governo Regional dos Açores para a ciência e tecnologia e ex-consultor da Universidade da Madeira. Ambas as experiências dariam uma longa crónica sobre a perecibilidade portuguesa de grandes projectos. Tudo compensado por variados trabalhos gratificantes de consultoria, sobre política da educação superior.
Vasta intervenção e bibliografia em política do ensino superior (ver Artigos). Será que me posso intitular de “universitólogo”?
Grande oficial da Ordem do Mérito.
Com outros gostos na vida, um livro sobre gastronomia, “O gosto de bem comer” (2005).
Também um outro livro, de reconciliação com a memória de infância, mas não publicado a não ser como “e-book”: O mastro das alminhas.
Atualmente reformado, ainda não calçou as pantufas.