“Há mais jovens a procurar clínicas e hospitais (incluindo públicos) para cirurgias vaginais [JVC – erro terminológico: não são vaginais, são principalmente vulvares, principalmente aos grandes e pequenos lábios da vulva, o órgão externo, não a vagina]. Especialistas acreditam que o aumento da procura de cirurgias vaginais se deve a pressão de companheiro, redes sociais e filmes pornográficos.
(…) “Preocupa-me, a nível de saúde mental, saber o que está por detrás desta decisão e desta escolha. Também me preocupa a possível desinformação, esta possível influência dos media e este tipo de clínicas de levar a pessoa com autoestima baixa a acreditar que o corpo não está como deveria estar”, sustentou [Ana Paulino, psicóloga]. A psicóloga observou o paradoxo de vivermos tempos em que as pessoas se tornaram “mais livres nas escolhas sobre o corpo”, mas ao mesmo tempo o mundo da indústria estética torna-se “numa espécie de prisão da autoestima”. (Observador, 2.6.2024)
Isto lembra-me uma pergunta que me faço frequentemente, que me leva a alguma pesquisa mas não bem sucedida, sobre as tatuagens. Quando eu era jovem, era um sinal de classificação social, coisa de rufias e marginais, ou de nichos como os de marinheiros, Popeye e a sua âncora tatuada. Com a guerra colonial, alastrou a sinalização de combatente. Hoje, é o que se vê, desde tatuagens discretas até à exibição “artísticas” de grande parte do corpo transformado em tela de pintura. E até me vem à ideia, se calhar em contra-senso, a atração dos SS de Auschwitz pelas tatuagens, recortando peles tatuadas de prisioneiros para fazer “abat-jours”. Que mecanismo psicológico leva uma pessoa a alterar para sempre o seu corpo? É uma dissociação entre corpo e mente? Será esta dissociação, levada ao extremo na transexualidade, manifestação de alguma coisa mais profunda que não estamos a ver?
Que o mundo está louco, parece uma evidência. Mas vejamos, é todo o mundo ou o “nosso mundo”? E, mais importante do que a simples constatação de uma evidência, é refletirmos sobre o porquê. Também estudar comparativamente esta situação e outros exemplos de decadência: a do Egito ptolomaico, a do Império romano, a dos dois impérios ibéricos, a do Ancien Regime em França
Há alturas em que é lógico lamentarmos não sermos historiadores, filósofos ou sociólogos, dotados dos instrumentos profissionais de análise. Mas isto não deve impedir que cada um reflita, se situe no binómio compreensão-ação. Porque, afinal, ainda há uma “cultura integral do indivíduo”, ainda há uma “filosofia da práxis” para a q tal também importa o contributo da “filosofia espontânea” (Gramsci) do homem comum.